Economia brasileira em lenta retomada: setores que mais crescem no momento e oportunidades para novos investimentos

Economia brasileira em lenta retomada: setores que mais crescem no momento e oportunidades para novos investimentos

A economia brasileira passa por uma fase de retomada lenta, marcada por altos e baixos. O PIB cresceu 2,9% em 2023, segundo o IBGE, mas as projeções para 2024 e 2025 indicam um ritmo mais moderado, próximo de 2% ao ano, de acordo com o boletim Focus do Banco Central. Não é um boom, mas também está longe de um cenário de estagnação completa.

Para quem empreende, investe ou pensa em mudar de área, a pergunta é direta: em meio a uma recuperação gradual, onde estão, de fato, as melhores oportunidades?

Nos últimos meses, alguns setores vêm crescendo acima da média, puxando emprego, faturamento e novos negócios. Outros, mesmo sem crescer em ritmo acelerado, oferecem nichos interessantes para quem consegue se posicionar com eficiência de custos e foco em demanda reprimida.

Uma retomada desigual: por que alguns setores avançam mais que outros

Antes de olhar para as oportunidades, vale entender o cenário geral. A economia brasileira hoje é influenciada por três fatores principais:

  • Juros ainda elevados – Apesar do ciclo de cortes da Selic iniciado em 2023, o juro real continua alto em comparação internacional, o que freia crédito, consumo e investimentos em setores mais dependentes de financiamento.
  • Mercado de trabalho em melhora gradual – A taxa de desemprego vem caindo desde o pico da pandemia e se estabilizou em um patamar mais baixo, segundo o IBGE, mas com muitos postos em atividades de serviços de menor remuneração.
  • Políticas públicas focadas em consumo e investimento – Programas de incentivo ao crédito, obras de infraestrutura e recomposição de renda (como o novo Bolsa Família e o aumento real do salário mínimo) sustentam parte da atividade em setores específicos.

O resultado é uma retomada heterogênea: enquanto alguns segmentos ligados a consumo de massa ainda caminham devagar, outros, conectados à inovação, serviços especializados e economia verde, mostram tração bem maior.

Serviços: o motor mais consistente da atividade

O setor de serviços representa mais de 70% do PIB brasileiro e vem sendo o principal responsável por evitar uma desaceleração mais forte. Dentro desse grande guarda-chuva, alguns segmentos se destacam.

1. Tecnologia da informação e serviços digitais

Mesmo após o ajuste das grandes empresas de tecnologia e o fim do ciclo mais eufórico de startups, a demanda por digitalização segue forte, especialmente entre pequenas e médias empresas.

  • Sistemas de gestão (ERP, controle de estoque, finanças)
  • Plataformas de e-commerce e meios de pagamento
  • Soluções de segurança digital e adequação à LGPD
  • Serviços de marketing digital e automação de vendas

Para investidores e empreendedores, a oportunidade não está apenas em “grandes unicórnios”, mas em negócios enxutos, com foco regional, que resolvam problemas concretos de empresas locais: reduzir custos, organizar processos, vender melhor.

2. Saúde e bem-estar

O envelhecimento da população, o aumento de doenças crônicas e a maior atenção à qualidade de vida fazem da saúde um dos setores de crescimento mais constante, mesmo em períodos de incerteza.

  • Clínicas populares e de atendimento rápido (oftalmologia, odontologia, exames)
  • Telemedicina e acompanhamento remoto de pacientes
  • Planos acessíveis e serviços de assinatura (check-ups, acompanhamento nutricional, academias de baixo custo)
  • Produtos de saúde preventiva (suplementos, alimentação funcional, apps de acompanhamento físico)

Dados da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) mostram aumento no número de beneficiários de planos de saúde nos últimos anos, especialmente em planos empresariais e coletivos, o que reforça a tendência de expansão dos serviços ligados à saúde.

3. Educação e capacitação profissional

A combinação de mercado de trabalho competitivo, avanço tecnológico e necessidade de requalificação constante impulsiona a demanda por cursos técnicos, profissionalizantes e de atualização.

  • Cursos on-line de curta duração (programação, design, marketing digital, gestão)
  • Formações técnicas ligadas à indústria, logística e agronegócio
  • Preparação para concursos em áreas com recomposição de quadros (educação, segurança, saúde)

Instituições que conseguem oferecer conteúdo relevante, certificado reconhecido e preço acessível têm boa margem para crescer, inclusive em cidades médias do interior.

Turismo e serviços locais: a retomada das viagens internas

Após o choque da pandemia, o turismo interno voltou a ganhar força, impulsionado por três elementos:

  • Câmbio desfavorável para viagens internacionais
  • Melhora gradual da renda de parte da população
  • Busca por viagens curtas, de fim de semana, dentro do próprio estado ou região

De acordo com dados do setor, destinos de natureza, cidades históricas e praias fora do eixo mais caro (como Rio de Janeiro e Fernando de Noronha) ganham espaço na preferência do viajante brasileiro.

Isso abre oportunidades em diferentes frentes:

  • Pequenas pousadas e hospedagens familiares, com gestão profissionalizada
  • Agências digitais focadas em roteiros de nicho (ecoturismo, turismo gastronômico, cicloturismo)
  • Serviços de transporte regional, transfers e passeios locais
  • Restaurantes e experiências gastronômicas voltadas ao público turista, com cardápios simples e bem executados

Para o investidor, o ponto central é a localização: regiões com acesso rodoviário razoável, algum apelo natural ou cultural e ainda pouca oferta de serviços de qualidade tendem a oferecer melhor relação risco-retorno.

Agronegócio: menos euforia, mais profissionalização

O agronegócio foi um dos motores da economia brasileira entre 2020 e 2023, com safras recordes de grãos e forte demanda externa. Em 2024, o cenário se tornou mais complexo, com quedas de preços de algumas commodities e desafios climáticos em certas regiões.

Isso significa que o agronegócio deixou de ser atrativo? Não necessariamente. Mas a fase de crescimento “quase automático” dá lugar a um momento de seleção mais cuidadosa.

Os segmentos que seguem com boas perspectivas incluem:

  • Agroindústria – Transformação de produtos in natura em alimentos processados com maior valor agregado (lácteos, proteína animal, produtos prontos).
  • Logística e armazenagem – Armazéns, silos, transporte e serviços de escoamento seguem demandados em regiões produtoras.
  • Tecnologia para o campo (agtechs) – Softwares de gestão de fazendas, monitoramento climático, uso de drones, soluções de irrigação inteligente.
  • Insumos mais eficientes – Fertilizantes especiais, sementes mais resistentes, bioinsumos.

Num cenário de margens pressionadas, produtores buscam reduzir perdas, melhorar produtividade e planejar melhor a comercialização. Empresas que ofereçam essas soluções tendem a crescer mesmo em contextos menos favoráveis de preços.

Energia e economia verde: uma transição em andamento

A transição energética não é tendência de curto prazo, mas processo de longo prazo que já impacta decisões de investimento no Brasil. O país tem uma matriz relativamente limpa, com forte participação de hidrelétricas, mas o crescimento recente vem principalmente de duas fontes:

  • Energia solar – Crescimento acelerado tanto em usinas de grande porte quanto em geração distribuída (telhados solares residenciais e comerciais).
  • Energia eólica – Expansão em estados do Nordeste, com impacto positivo em emprego e renda local.

Dados da Aneel e da Absolar indicam que a geração distribuída solar ultrapassou a marca de milhões de unidades consumidoras com sistemas próprios, tornando-se um dos segmentos mais dinâmicos da economia de energia.

Além da geração, surgem oportunidades em:

  • Empresas de instalação e manutenção de sistemas solares
  • Fintechs especializadas em crédito verde para pessoas físicas e pequenas empresas
  • Serviços de eficiência energética (troca de equipamentos, iluminação, automação predial)
  • Reciclagem e descarte adequado de equipamentos (painéis, baterias, eletrônicos)

A pauta ESG (ambiental, social e governança) também influencia capital privado: fundos de investimento e grandes empresas priorizam projetos alinhados à sustentabilidade, gerando pipeline de oportunidades para negócios que se enquadram nesses critérios.

Construção civil e mercado imobiliário: nichos em recuperação

A construção civil sofreu com juros altos e crédito caro, mas começa a mostrar sinais mais claros de recuperação em determinados segmentos, especialmente com a expectativa de continuidade dos cortes na Selic e programas habitacionais ampliados.

Alguns nichos se destacam:

  • Habitação popular e faixa média – Programas como o Minha Casa, Minha Vida ajudam a destravar projetos voltados à baixa renda e à classe média emergente.
  • Imóveis logísticos – Galpões e centros de distribuição próximos a grandes centros urbanos, impulsionados pelo e-commerce.
  • Reformas e retrofit – Adequação de imóveis antigos, tanto comerciais quanto residenciais, a novos padrões de uso e eficiência.

Nos materiais de construção, redes de varejo com boa gestão de estoque e foco em pequenas reformas residenciais também vêm se beneficiando de uma demanda mais pulverizada, ligada à melhoria gradual da renda e ao crédito consignado.

Economia digital, meios de pagamento e serviços financeiros

A digitalização dos serviços financeiros avança mesmo em cenários de crescimento econômico modesto. Pix, carteiras digitais, bancos digitais e plataformas de crédito mudaram a forma como brasileiros pagam, recebem e guardam dinheiro.

Os movimentos mais relevantes incluem:

  • Expansão de maquininhas e sistemas de pagamento para pequenos negócios
  • Crescimento de soluções de “compre agora, pague depois” (BNPL) em e-commerces
  • Plataformas de crédito para MEIs e pequenas empresas com análise de dados em tempo real
  • Educação financeira digital (apps, conteúdos, influenciadores especializados)

Para investidores individuais, o ambiente de juros ainda relativamente altos mantém atrativa a renda fixa, principalmente em títulos indexados à inflação e pós-fixados. Ao mesmo tempo, a busca por diversificação leva parte do público a explorar fundos imobiliários, ações de setores resilientes e investimentos alternativos (como agro e energia).

Onde estão as principais oportunidades de investimento hoje?

Em uma economia em lenta retomada, o risco de apostar em “modas do momento” é grande. O que os dados recentes sugerem, porém, é que oportunidades mais consistentes tendem a aparecer em alguns eixos específicos.

1. Negócios que reduzem custos de terceiros

Em ambiente de juros altos e margens apertadas, empresas e famílias priorizam iniciativas que cortem gastos sem perder qualidade. Negócios com boa perspectiva incluem:

  • Soluções de automação e gestão para pequenas empresas
  • Serviços compartilhados (coworking, cozinhas industriais, logística integrada)
  • Energia solar e eficiência energética para comércios e residências

2. Serviços essenciais a preços acessíveis

Saúde, educação, alimentação e moradia são itens que não saem do orçamento, mesmo em tempos difíceis. O diferencial está na combinação de qualidade mínima com preço competitivo:

  • Clínicas e laboratórios populares com processos padronizados
  • Cursos técnicos e profissionalizantes a distância
  • Restaurantes simples com ticket médio controlado e alto giro

3. Interiorização de serviços de qualidade

Cidades de médio porte, muitas vezes, não contam com a mesma variedade de serviços presentes nas grandes capitais, mas possuem:

  • Mercado consumidor crescente
  • Custo de operação mais baixo
  • Concorrência menos acirrada em alguns nichos

Franquias bem estruturadas, clínicas, redes de educação e serviços de tecnologia têm ampliado presença nesse tipo de município, aproveitando a combinação de demanda reprimida e menores custos fixos.

4. Investimentos produtivos aliados à renda passiva

Para o investidor pessoa física, uma estratégia recorrente tem sido combinar:

  • Renda fixa (Tesouro, CDBs, LCIs/LCAs) para preservar capital e garantir fluxo previsível
  • Fundos imobiliários focados em galpões, logística e lajes bem localizadas
  • Participação seletiva em ações de setores resilientes (energia, saneamento, serviços essenciais)

A escolha do portfólio depende do perfil de risco, mas, em cenário de retomada lenta, a diversificação por setor e prazo tende a ser tão importante quanto a busca por retornos elevados.

Riscos a considerar antes de investir ou empreender

O ambiente de oportunidades não elimina os riscos. Entre os principais pontos de atenção estão:

  • Incerteza fiscal – Dúvidas sobre trajetória da dívida pública, mudanças em regras tributárias e programas de gastos podem afetar juros, câmbio e apetite de investidores.
  • Volatilidade política – Embates entre governo, Congresso e Judiciário podem atrasar reformas ou gerar mudanças repentinas em setores regulados.
  • Cenário internacional – Crescimento global abaixo do esperado, conflitos geopolíticos ou choques de commodities (petróleo, alimentos) repercutem diretamente na economia brasileira.
  • Endividamento das famílias – Mesmo com melhora no mercado de trabalho, o nível de endividamento e inadimplência segue elevado, limitando a expansão de crédito ao consumo.

Para quem investe, isso significa evitar concentrações excessivas em um único setor ou tipo de ativo. Para quem empreende, reforça a importância de manter reservas de caixa, controlar endividamento e ter planos de contingência.

Como se posicionar na prática: passos para aproveitar a retomada

Em vez de buscar “o setor do momento”, o caminho mais prudente é combinar leitura de dados, análise local e planejamento.

  • Observe a economia da sua região – Quais empresas estão contratando? Que tipos de serviços faltam? Há obras, novos empreendimentos, aumento do fluxo turístico?
  • Compare tendências nacionais com a realidade local – Um setor em alta no país pode ainda estar subdesenvolvido na sua cidade, abrindo espaço para atuação pioneira.
  • Comece enxuto – Em contexto de incerteza, modelos de negócio leves, com menor custo fixo e possibilidade de ajustes rápidos, tendem a ser mais resilientes.
  • Use dados para decidir – Projeções oficiais (IBGE, Banco Central, ministérios), relatórios de associações setoriais e balanços de empresas abertas oferecem pistas concretas sobre onde o dinheiro está, de fato, circulando.

A economia brasileira, hoje, não vive um ciclo de crescimento acelerado, mas um período de reorganização, com setores que sobem, estabilizam ou recuam em ritmos diferentes. Para quem observa com atenção, isso não é apenas um diagnóstico: é um mapa de onde estão, agora, os espaços mais promissores para novos investimentos e negócios.

Em um cenário assim, a vantagem competitiva deixa de ser a pressa e passa a ser a capacidade de interpretar sinais, escolher setores com fundamentos sólidos e construir, passo a passo, projetos sustentáveis no médio e no longo prazo.