Destinos brasileiros pouco conhecidos que estão despontando no turismo nacional e atraindo novos perfis de viajantes

Destinos brasileiros pouco conhecidos que estão despontando no turismo nacional e atraindo novos perfis de viajantes

Nos últimos anos, o turismo brasileiro passou por uma transformação silenciosa. Enquanto destinos tradicionais como Rio de Janeiro, Salvador e Foz do Iguaçu seguem fortes, uma nova leva de cidades e regiões menos conhecidas começou a ganhar espaço nas buscas, nas redes sociais e nos roteiros de quem viaja pelo país. São lugares que combinam natureza, cultura local preservada e preços ainda competitivos — e que, aos poucos, deixam de ser “segredo bem guardado”.

Neste artigo, reunimos alguns desses destinos que estão despontando no turismo nacional e analisamos por que eles estão atraindo novos perfis de viajantes: do nômade digital ao turista de fim de semana que busca experiências mais autênticas e menos lotadas.

Por que destinos menos conhecidos estão em alta?

Alguns fatores ajudam a explicar o crescimento desses novos polos turísticos no Brasil:

  • Busca por lugares menos cheios: depois da pandemia, muita gente passou a evitar grandes aglomerações e procurar praias, vilas e cidades menores.
  • Trabalho remoto e nômades digitais: a possibilidade de trabalhar de qualquer lugar ampliou o interesse por destinos com boa internet, custo de vida moderado e qualidade de vida.
  • Redes sociais: bastam algumas fotos virais no Instagram ou vídeos no TikTok para colocar um lugar “fora do radar” no mapa do turismo.
  • Preços mais acessíveis: passagens de ônibus mais baratas, hospedagens familiares e menos exploração comercial atraem quem quer viajar sem estourar o orçamento.
  • Interesse por experiências locais: cresce o número de viajantes que prefere comer em restaurante simples, conversar com moradores e participar de festas tradicionais em vez de seguir roteiros padronizados.

A seguir, destacamos alguns destinos que reúnem essas características e já aparecem com mais frequência em buscas de hospedagem e relatos de viajantes.

Alter do Chão (PA): a “praia” de água doce que virou tendência

Alter do Chão, distrito de Santarém, no Pará, já foi chamado de “Caribe amazônico” por revistas internacionais. Por muito tempo, porém, o acesso mais complexo e a falta de divulgação mantiveram o lugar na lista dos desejos, mas fora do roteiro da maioria. Isso vem mudando.

Por que está despontando?

  • Belezas naturais: praias de água doce no rio Tapajós, areia branca e vegetação de floresta ao redor.
  • Temporada marcada: entre agosto e dezembro, o nível do rio baixa e formam-se as praias mais famosas, como a Ilha do Amor.
  • Turismo de base comunitária: passeios com comunidades ribeirinhas, trilhas na floresta e visita a áreas de preservação.

Perfil de viajante que tem chegado lá:

  • jovens adultos em busca de natureza e experiências “instagramáveis”;
  • turistas com interesse em ecoturismo e cultura amazônica;
  • estrangeiros que incluem a Amazônia no roteiro pelo Brasil.

Informações práticas:

  • Como chegar: voo até Santarém e, de lá, cerca de 40 km de carro ou táxi até Alter do Chão.
  • Custo médio: hospedagens simples e pousadas variam bastante, mas ainda ficam, em média, abaixo de grandes destinos de praia do Nordeste.
  • Melhor época: de agosto a novembro, quando as praias de rio estão mais visíveis.

Capitólio (MG): de “Mar de Minas” a polo de turismo de aventura

Capitólio, no sudoeste de Minas Gerais, ganhou fama nacional depois que as imagens dos cânions e do chamado “Mar de Minas” circularam massivamente nas redes sociais. A região, antes conhecida principalmente por moradores do estado, passou a receber turistas de vários cantos do país.

Destaques da região:

  • Lago de Furnas: passeios de lancha, mirantes e cânions com águas verdes.
  • Turismo de aventura: trilhas, cachoeiras, tirolesas e atividades aquáticas.
  • Gastronomia mineira: queijos, doces, cafés coloniais e restaurantes familiares.

Quem está indo para lá?

  • grupos de amigos em busca de viagens curtas de fim de semana;
  • casais interessados em passeios ao ar livre e pousadas mais reservadas;
  • motociclistas e viajantes de carro que fazem rotas pelo interior de Minas.

Cuidados e planejamento:

  • Temporadas de maior movimento: feriados prolongados (especialmente carnaval e Réveillon) lotam a região e encarecem passeios.
  • Segurança em passeios de lancha: importante escolher empresas regularizadas e usar colete salva-vidas.
  • Clima: em época de chuvas, algumas trilhas e cachoeiras podem ser interditadas por risco de tromba-d’água.

Jalapão (TO): cerrado em alta entre viajantes de aventura

O Jalapão, no Tocantins, já é conhecido há alguns anos por viajantes de ecoturismo, mas só recentemente começou a aparecer com mais força no turismo nacional mais amplo. A combinação de dunas, fervedouros, rios e formações rochosas vem atraindo quem busca um cenário “diferente de tudo” dentro do Brasil.

O que torna o Jalapão único?

  • Fervedouros: nascentes de água cristalina onde é impossível afundar, por causa da pressão da água.
  • Dunas do Jalapão: áreas de areia alaranjada com vista para a vegetação do cerrado.
  • Cachoeiras e cânions: opções para banho, trilha e fotografia.

Um destino ainda pouco estruturado

O Jalapão não é, por enquanto, um destino de turismo de massa. A infraestrutura é limitada e o deslocamento costuma ser feito em veículos 4×4, preferencialmente com guias locais.

  • Perfil de viajante: quem aceita certo nível de desconforto em troca de natureza preservada.
  • Hospedagem: pousadas simples, campings e hospedagens familiares.
  • Acesso: em geral, o ponto de partida é Palmas, capital do Tocantins, com roteiros organizados de 3 a 6 dias.

Esse cenário tem atraído especialmente grupos jovens, influenciadores e criadores de conteúdo em busca de imagens marcantes, além de viajantes mais experientes, acostumados a destinos remotos.

Serra do Rio do Rastro e região (SC): montanhas, clima frio e novas rotas

Quem associa o turismo em Santa Catarina apenas a praias começa a descobrir outra face do estado: as rotas de serra, com destaque para a Serra do Rio do Rastro e seu entorno. A região, antes dominada pelo turismo de passagem, ganha cada vez mais pousadas, vinícolas e estruturas voltadas ao visitante.

Pontos fortes da região:

  • Estrada cênica: a estrada da Serra do Rio do Rastro é considerada uma das mais bonitas do Brasil, com curvas fechadas e mirantes.
  • Clima de serra: temperaturas baixas no inverno, ocasionalmente com geada e até neve em algumas cidades próximas.
  • Turismo de inverno: lareiras, vinhos, fondue e hospedagens de charme.

Novos perfis de viajantes:

  • casais e famílias que já conhecem destinos de praia e buscam algo diferente no estado;
  • motociclistas e cicloturistas interessados no desafio da serra;
  • viajantes que trabalham remotamente e passam temporadas em cidades menores, aproveitando o clima e o custo de vida.

Informações úteis:

  • Acesso: a região pode ser acessada a partir de cidades como Lauro Müller, Bom Jardim da Serra e Urubici.
  • Melhor época: inverno para quem quer frio; primavera e outono para evitar lotação e pegar clima mais ameno.
  • Cuidado com a estrada: neblina e chuva podem dificultar a visibilidade, exigindo mais atenção de quem dirige.

Nova Olinda e o Cariri cearense: arte, cultura e geossítios

Enquanto o litoral do Ceará segue entre os mais visitados do país, o interior do estado começa a chamar atenção. O Cariri cearense, com cidades como Nova Olinda, Crato e Juazeiro do Norte, vem se firmando como polo de turismo cultural, religioso e geológico.

Diferenciais da região:

  • Fundação Casa Grande (Nova Olinda): referência internacional em trabalho social e cultural com crianças e jovens, que hoje recebem visitantes, apresentam a rádio comunitária e contam a história local.
  • Geopark Araripe: reconhecido pela UNESCO, com sítios geológicos, fósseis e paisagens singulares.
  • Turismo religioso: Juazeiro do Norte segue como centro de romarias ligadas a Padre Cícero, mas o público começa a se diversificar.

Quem o Cariri tem atraído?

  • pesquisadores, estudantes e profissionais da área cultural e social;
  • viajantes interessados em turismo de base comunitária;
  • turistas que gostam de combinar cultura, história e natureza em uma mesma viagem.

Logística e custos:

  • Aeroporto: Juazeiro do Norte recebe voos de capitais como Fortaleza e Recife (com frequência variável, conforme a época do ano e companhias aéreas).
  • Transporte interno: deslocamentos entre cidades podem ser feitos de carro, táxi ou transporte alternativo.
  • Hospedagem: variedade de pousadas e hotéis simples, com diárias geralmente abaixo dos grandes centros litorâneos.

Barra Grande (PI) e o litoral pouco explorado do Piauí

O Piauí possui o menor litoral do Brasil, mas isso não impediu a região de se transformar, aos poucos, em um espaço disputado por praticantes de kitesurfe e por viajantes que buscam praias mais tranquilas. Barra Grande, no município de Cajueiro da Praia, é um dos nomes que mais se destacam.

Por que o destino cresceu?

  • Ventos constantes: condições ideais para esportes como kitesurfe, que atraem turistas brasileiros e estrangeiros.
  • Clima de vila: ruas de areia, pousadas pequenas e restaurantes que misturam culinária local e opções mais contemporâneas.
  • Integração com rotas maiores: muitos visitantes incluem Barra Grande em roteiros que passam por Jericoacoara (CE) e Lençóis Maranhenses (MA), compondo o chamado “Rota das Emoções”.

Novo perfil de visitante:

  • turistas com maior poder aquisitivo, ligados a esportes náuticos;
  • viajantes em busca de destinos menores que ainda mantêm um ar de “descoberta”;
  • nômades digitais que passam temporadas mais longas, atraídos pelo clima, pela internet razoável e pelo custo de vida, que ainda pode ser mais baixo que em grandes capitais.

Aspectos práticos:

  • Acesso: normalmente via Parnaíba (PI) ou mesmo a partir de cidades do Ceará, como Jericoacoara, em transfers organizados.
  • Melhor época: de julho a janeiro, com ventos mais constantes para kitesurfe; para quem não pratica esportes, é importante checar também períodos de maré e chuvas.
  • Impacto do crescimento: aumento de construções e fluxo turístico levanta debates locais sobre preservação ambiental e ordenamento urbano.

Vale do Pati (BA): trekking de longa duração em ascensão

Dentro da já consolidada Chapada Diamantina, na Bahia, o Vale do Pati deixou de ser um circuito conhecido basicamente entre trilheiros experientes e passou a aparecer com mais frequência em agências especializadas e relatos nas redes sociais.

O que caracteriza o Vale do Pati?

  • Trekking de vários dias: em geral, roteiros de 3 a 5 dias de caminhada, com pernoites em casas de moradores locais.
  • Integração com a comunidade: alimentação caseira, hospedagem simples e contato direto com famílias que vivem na região.
  • Paisagem: cânions, mirantes, rios e vegetação típica de chapada.

Por que está atraindo novos perfis?

  • busca crescente por experiências imersivas, em que o viajante se desconecta de grandes centros e da rotina;
  • expansão de agências e guias credenciados que facilitam o acesso, inclusive para quem não é trilheiro profissional;
  • maior visibilidade em blogs, canais de vídeo e perfis de viagem.

Pontos de atenção:

  • não é um roteiro indicado para quem tem grandes limitações de mobilidade ou cardiorrespiratórias;
  • é recomendável contratar guias locais habilitados, tanto por segurança quanto por respeito às comunidades;
  • é importante checar condições climáticas, já que períodos de chuva podem tornar trechos mais difíceis.

Como escolher entre esses novos destinos?

Com tantas opções em ascensão, a escolha do destino depende, principalmente, de três fatores: perfil do viajante, orçamento disponível e tempo de viagem. Alguns critérios podem ajudar na decisão:

  • Nível de conforto desejado: destinos como Jalapão e Vale do Pati exigem mais disposição física e adaptação a hospedagens simples; já Serra do Rio do Rastro e Barra Grande oferecem, com mais facilidade, pousadas confortáveis e boa estrutura.
  • Tipo de paisagem preferida: praia de água doce (Alter do Chão), serra e frio (Serra do Rio do Rastro), cerrado (Jalapão), litoral (Barra Grande) ou combinação de cultura e natureza (Cariri, Vale do Pati).
  • Forma de trabalho: quem pretende trabalhar remotamente precisa verificar disponibilidade e qualidade da internet, algo mais fácil em Barra Grande, Serra do Rio do Rastro e cidades do Cariri do que em áreas remotas como o Jalapão.
  • Impacto ambiental: destinos em ascensão costumam ser mais frágeis à pressão turística; vale pesquisar iniciativas de turismo responsável e priorizar operadores locais comprometidos com preservação.

Outro ponto relevante é observar como o aumento do fluxo turístico está sendo tratado pelas autoridades locais e pelas comunidades. Em muitos casos, o visitante pode contribuir escolhendo serviços de moradores, respeitando regras de visitação e evitando práticas que pressionem ainda mais o meio ambiente.

Um novo mapa turístico em construção

O crescimento de destinos brasileiros pouco conhecidos indica que o turismo nacional começa a se diversificar, tanto em oferta quanto em público. Ao lado dos grandes ícones, surgem vilas, cidades do interior e regiões que, até pouco tempo atrás, apareciam apenas em conversas entre viajantes mais experientes.

Para o visitante, a ampliação desse mapa significa mais opções, maior possibilidade de encontrar experiências alinhadas ao próprio perfil e, em muitos casos, custos mais acessíveis. Para os municípios, abre-se a oportunidade de geração de renda e desenvolvimento local — desde que acompanhada de planejamento, infraestrutura adequada e preservação do patrimônio natural e cultural.

No fim, a principal mudança pode estar na forma de viajar: menos interesse em “colecionar destinos famosos” e mais disposição para explorar o Brasil real, com seus ritmos, sotaques e paisagens que ainda não estampam todos os folhetos de agência, mas já começam a ganhar espaço nos roteiros de quem quer algo além do óbvio.